Assim como o perdão de Deus para o homem é peça fundamental no plano da redenção, a disciplina do perdão deve estar bem no centro de nosso viver cristão.
É comum guardarmos ressentimentos justificáveis, ou seja, segundo nossa ótica humana falha, estamos "cobertos de razão" em não perdoar, pois o que fizeram conosco é "imperdoável".
Em outras ocasiões ficamos procurando sinais verdadeiros de arrependimento nas pessoas para que então possamos "do alto da nossa magnificência", liberar o perdão para elas. Freqüentemente relembramos aos outros da necessidade de arrependimento antes que lhes perdoemos.
Desse modo muitas vezes somos farisaicos e rápidos em achar faltas, mas tardios em reconhecer que também somos falhos, também precisamos ser perdoados, e só somos o que somos porque um dia Deus nos perdoou através do sacrifício de Jesus Cristo.
Hoje é dia de sermos completamente curados e libertos de todos os ressentimentos e de todas as barreiras que a falta de perdão têm gerado em nossos relacionamentos, e tomarmos posse desse fruto poderoso do Espírito Santo em nossas vidas, que nos faz perdoados e perdoadores.
II - O QUE É O PERDÃO?
Perdoar significa conceder a remissão de qualquer ofensa ou dívida, gerada por falta ou transgressão e desistir de qualquer reivindicação, ou seja, liberar o ofensor de qualquer obrigação proveniente de sua falta.
Devemos conceder o perdão livremente, não extraindo ou esperando nenhum pagamento por ele. Uma atitude muito comum é condicionar o perdão a um determinado posicionamento ou retribuição, ou seja, é a famosa "chantagem emocional":
- "Eu te perdôo, mas você vai ter que dar algo em troca..."
Devemos desistir de qualquer reivindicação e liberar de vez o ofensor a fim de os dois possam ser livres.
Deus nos concede perdão livremente, pois Jesus pagou o preço na cruz do Calvário. Assim também nós devemos perdoar segundo o padrão que Ele estabeleceu.
Em todo o ensinamento de Jesus vemos presentes as lições sobre o perdão, que estabelecem um princípio espiritual muito importante que deve reger nossas vidas, não só a conjugal, mas todas as áreas: se perdoamos, somos perdoados (Mt. 6:14 e 15), pois Deus só pode nos perdoar na medida em que estamos dispostos a perdoar os outros.
III - CONSEQÜÊNCIAS DA FALTA DE PERDÃO
Seguir na direção contrária do plano e da vontade de Deus, fatalmente nos leva a um caminho de derrota e destruição. Com o perdão não é diferente. A Palavra nos mostra que a falta de perdão nos mantém em escravidão, debaixo do jugo do inimigo. Se o perdão revela a presença do Espírito Santo em nós, a falta deste abre uma grande brecha para Satanás operar. Vejamos então suas conseqüências:
* Quando retemos o perdão para aqueles que nos magoaram e feriram, somos entregues aos atormentadores, conforme nos revela o texto de Mt 18:34. Por isso muitos relacionamentos não prosperam, já que existem demônios que estão habilitados a trazer a contenda e a discórdia pela falta de perdão entre os cônjuges. Freqüentemente a falta de perdão é a base para formação de fortalezas demoníacas;
* Uma das mais sérias conseqüências da falta de perdão é a amargura, que é o resultado de uma falta de perdão que já dura muito tempo (Heb 12:15). O efeito final da amargura é que muitos serão "contaminados" e se permitirmos que se enraíze, ela certamente:
- Nos destruirá, muitas vezes se manifestando em doenças físicas e emocionais;
- Atingirá outras pessoas;
- Dará a luz outros pecados;
- Endurecerá e esfriará o nosso coração;
- Esmagará o amor e freqüentemente o matará;
* A falta de perdão bloqueia nossa comunhão com Deus. O Senhor Deus nos instruiu a perdoar nossos irmãos antes de orarmos. Para que possamos caminhar em fé, precisamos manter esse tipo de atitude para com os outros, para que também as promessas de Deus não sejam retardadas em nossas vidas (Mt 5:22-26) e nosso próprio perdão não seja bloqueado (Mt 6:14 e 15).
IV - COMO LIBERAR O PERDÃO
A palavra fala a respeito daqueles que nós ofendemos como também daqueles que nos têm ofendido. Portanto a falta de perdão afeta tanto ao que se recusa a perdoar, como ao não perdoado.
Devemos seguir uma regra simples:
* Se nós ofendemos - devemos iniciar o processo de perdão;
* Se nós fomos os ofendidos - também devemos inicia-lo.
O justificar-se apenas perpetua o pecado e mantém a separação entre as duas pessoas. Geralmente julgamos as outras pessoas pelas ações, mas nós mesmos pelas intenções. Enquanto queremos julgamento para os outros, desejamos misericórdia para nós.
Devemos seguir os padrões bíblicos para o perdão:
* O arrependimento de nosso cônjuge (ou de qualquer outra pessoa) não é necessário para que haja o perdão. Perdoar libera o ofensor para que ele se arrependa (Rm 2:4). Tanto o Senhor Jesus (Lc 23:34) como Estevão (At 7:60), perdoaram seus executores enquanto estavam sendo mortos, mesmo quando não havia nenhum sinal de arrependimento por parte daqueles;
* Não há limites para o número de vezes que devemos perdoar (Mt 18:22). O amor não mantém o registro de erros, mas cobre multidão de pecados (I Pe 4:8) e é paciente (I Co 13:4);
* Se o seu cônjuge estiver repetindo o mesmo pecado perdoe-o como Deus perdoa (Is 43:25). O Senhor não se lembra de um pecado perdoado. Quando perdoamos de verdade não relembramos os pecados passados. Esquecer significa não ficar pensando no assunto. Cada nova mágoa é como se nunca tivesse acontecido antes. Nunca mencione novamente uma mágoa que já havia sido perdoada (não levante defuntos da cova...!!!);
* Muitos erram por não entender que o perdão é um ato da vontade e não um sentimento. Precisamos decidir perdoar e os nossos sentimentos seguirão essa decisão. Devemos fazer com que nossa vontade concorde com a vontade de Deus e procurarmos ser orientados pelo Espírito Santo. Somente através do coração amoroso e compassivo dEle seremos capazes de perdoar aos nossos devedores, pois os veremos como Ele os vê. Nossos sentimentos de dor e raiva serão sobrepujados pelo grande amor de Deus por aqueles que nos feriram;
* Segundo a palavra de Pv 17:9 não devemos falar aos outros a respeito da mágoa que sofremos. Muitas vezes isso acontece nas situações em que se compartilha o acontecido, somente para obter simpatia e compreensão dos outros, expondo o cônjuge e a situação permitindo que outros interfiram;
* Deus não categoriza os pecados como grandes e pequenos. Não podemos justificar o nosso pequeno pecado de justiça própria, por causa do grande pecado de nosso cônjuge. Para Deus pecado é pecado (Rm 3:23). Quando caminhamos em julgamento, freqüentemente, nos tornamos iguais àqueles a quem julgamos. Devemos examinar a nós mesmos e não o nosso cônjuge (Lc 6:37);
Muitos justificam sua falta de posicionamento por sua "incapacidade" de perdoar:
- "Por mais que eu tente não consigo esquecer o que ele me fez..."
Quando se diz "não posso perdoar" na verdade isso significa "não quero perdoar". Isso não é possível pela capacidade humana, mas somente através do poder de Deus, pois nEle não há obstáculos para o perdão. Somente com Sua natureza habitando em nós seremos capazes de perdoar e confiar novamente.
V - CONCLUSÃO
"Antes, sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus em Cristo vos perdoou." - Ef 4:32
Antes de podermos perdoar aos outros, freqüentemente precisamos perdoar a nós mesmos, tendo consciência da obra da cruz e do perdão do Senhor sobre as nossas vidas. Se não perdoamos, nos mantemos numa posição superior à do Senhor, cheios de orgulho e arrogância, pois se Ele sendo Deus pode nos perdoar, por que não podemos perdoar ao nosso próximo?
Não podemos nos esquecer que logo após a queda, homem e mulher ergueram uma barreira entre si, permitindo que a acusação encontrasse lugar no relacionamento. Não podemos permitir nem mesmo pequenas áreas de falta de perdão em nosso casamento, e nem que o inimigo reconstrua a "parede" da falta de perdão.
Jesus veio para destruir toda separação entre nós e Deus, e conseqüentemente, entre nós e o nosso próximo (Mt 27:51).
Vimos nessa ministração aspectos práticos sobre a disciplina do perdão, que seguiremos a partir de hoje, para o crescimento e cura dos nossos casamentos:
- Reconhecer que o perdão é um ato da vontade e não um sentimento;
- Pedir a Deus que nos mostre como Ele vê o ofensor;
- Permitir que a Sua compaixão flua dentro de nós;
- Escolher fazê-lo, ser obediente;
- Não se lembrar mais da mágoa perdoada (não ficar pensando nela);
- Declarar palavras que sejam opostas ao problema;
- Abençoar aqueles a quem perdoamos.